Para Edlayne Burr, da Accenture, que faz parte dos grupos de trabalho junto ao Banco Central, e Ralph Bragg, que ajudou a implantar o sistema no Reino Unido, o país pode ter um dos sistemas mais avançados do planeta
“O Brasil está fazendo um trabalho fenomenal. Os grupos com quem trabalhei aprenderam milhões de conceitos técnicos e padrões tecnológicos com muita rapidez. O país está realizando em sete meses algo que o Reino Unido levou três anos e meio para fazer”, diz Ralph Bragg, fundador e CTO da consultoria Raidiam, especializada em sistemas financeiros.
Tanto Edlayne quanto Ralph falam com conhecimento de causa. A executiva faz parte dos grupos de trabalho que estão ajudando a construir o sistema no Brasil. Ralph, ao lado da consultoria Raidian, foi um dos arquitetos de toda a estrutura usada para conceber o Open Banking no Reino Unido – hoje, presta consultorias para bancos de diferentes países, como Austrália e Espanha.
Em comum, Edlayne e Ralph apoiam a OBE – Open Banking Excelence, uma organização global de apoio ao Open Finance, com sede no Reino Unido e presença em mais de 40 países. Em setembro, a OBE abriu uma base no Brasil, com o objetivo de dar suporte ao desenvolvimento e crescimento do sistema financeiro aberto no país.
“Acreditamos que a adoção do Open Banking vai trazer melhores produtos e serviços, atraindo milhões de novos clientes e abrindo oportunidades únicas para fintechs”, diz Helen Child, cofundadora da OBE. “E nós queremos fazer parte disso.”
Atrasos e conquistas
Para o olhar leigo, pode parecer que o Open Banking tem passado por dificuldades no Brasil, com muitos tropeços e atrasos. A primeira fase, iniciada em fevereiro deste ano, previa que as instituições participantes disponibilizassem ao público informações padronizadas sobre os seus canais de atendimento, produtos e serviços.
A segunda etapa, que devia ter começado em abril, acabou adiada para o dia 13 de agosto. Esse desdobramento, mais abrangente, permitiu o compartilhamento entre diferentes instituições e fintechs de dados cadastrais e transacionais (em contas, cartão de crédito e produtos de crédito contratados) do cliente – desde que ele desse o seu consentimento.
Prevista para o dia 30 de agosto, a terceira fase tinha como meta o compartilhamento de serviços de iniciação de transações de pagamento e de encaminhamento de proposta de operação de crédito. Mas houve um novo adiamento, e as mudanças ficaram para o final de outubro. A quarta etapa está prevista para dezembro: na ocasião, os clientes poderão compartilhar informações de operações de câmbio, investimentos seguros e previdência complementar.
“Você tem que entender o contexto desses atrasos”, diz Edlayne. “O que acontece é que o Banco Central fez um cronograma muito agressivo, que previa a implementação de todas as fases em apenas um ano. Seria algo único no mundo.” Com os adiamentos, diz a executiva, todas as fases devem estar totalmente consolidadas até o final do ano que vem. “Ainda estaremos à frente do Reino Unido, que levou três anos e meio para fazer o sistema andar. Sem contar que a nossa operação é mais completa, porque inclui cartões de crédito, algo que os ingleses não fizeram.”
Complexidade
O especialista Ralph Bragg, da Raidiam, não estava envolvido no início dos trabalhos do Banco Central para implantar o Open Banking no Brasil. “Fomos chamados mais tarde, porque precisavam de alguém para criar o Trust Framework – a estrutura de identidade e segurança que fica no centro do sistema. E acabamos fazendo workshops para explicar o trabalho que havíamos feito no Reino Unido”, diz o consultor.
Apesar da dificuldade em assimilar uma quantidade enorme de novas informações, o avanço foi rápido, segundo Bragg. “Foi muito impressionante ver o nível de conhecimento e habilidade do setor de serviços financeiros no Brasil. Sim, foi necessário muito aprendizado, mas eu jamais subestimaria o nível de expertise necessário para entender e entregar esses processos. Esses atrasos não são nada comparados com as conquistas.”
Envolvida há um ano nos grupos de trabalho – a Accenture representa grandes bancos junto ao Banco Central –, Edlayne afirma que a complexidade desse trabalho para as instituições é enorme. “Open Banking nada mais é do que dividir informações por meio de APIs. Nos grandes bancos, que existem há muitos anos, os sistemas não têm a mesma arquitetura que os novos. Então é muito pesado para eles fazer tudo isso. Mas eles já entenderam que existem muitas oportunidades ali.”
Oportunidades
A Líder de Estratégia para Pagamentos da Accenture enumera três modelos de negócio principais, que devem começar a surgir já em 2022, para alegria dos bancos, fintechs e outros players que souberem aproveitar o momento. O primeiro é o agregador de contas, que funciona tanto para pessoa jurídica quanto para pequenas e médias empresas.
“Hoje, se você tem contas ou produtos financeiros em diferentes bancos, não existe uma maneira de ver tudo em um único dashboard”, diz Edlayne. “Com o Open Banking, será possível criar um serviço em que o cliente veja todas as suas movimentações financeiras, em diferentes instituições, concentradas no mesmo local. O mesmo vale para pequenas e médias empresas, que vão poder ver todo o fluxo de capital do negócio em um único lugar.” A oportunidade, diz, vale tanto para grandes bancos quanto para fintechs. “O modelo é muito bem-sucedido em países como Inglaterra e Singapura.”
Outra alternativa é a criação de marketplaces. Em vez de oferecer apenas produtos próprios, os bancos poderão montar uma plataforma com ofertas de bancos parceiros. "O Banco DBS, de Singapura, foi mais longe e oferece até mesmo pacotes de viagens”, diz a diretora executiva da Accenture. Também vitorioso lá fora, o modelo de agência de crédito é outro que deve pegar aqui. “Com o consentimento do cliente, os bancos vão ser obrigados a abrir os limites de crédito de cada um. Com isso, vão surgir agências concentrando essas informações.” E as ofertas de crédito, diz, serão melhores e mais variadas.
“O melhor de tudo isso é que esse não é um jogo de cartas marcadas”, diz a executiva. “Há oportunidades para todos. Desde que o banco, fintech ou empresa comece a se preparar desde já. É preciso começar a desenvolver modelos para isso, ainda neste ano. Quem esperar muito vai ficar para trás.”
Adoção precoce
Alguns especialistas acreditam que pode haver dificuldades para a adoção do Open Banking no Brasil, já que nem todos entenderiam como o sistema funciona ou estariam dispostos a compartilhar seus dados. “Em todas as pesquisas globais, o brasileiro sempre aparece como um dos povos mais abertos para a inovação”, diz Edlayne. “Prova disso é o sucesso do PIX, que hoje é o segundo maior sistema de pagamento instantâneo do mundo, atrás apenas da Índia.”
Para Ralph Bragg, que auxilia na transformação do Santander no Brasil, os consumidores não querem saber o que é Open Banking, e nem precisam. “O que eles querem saber é como podem tirar proveito disso. No momento em que começarem a surgir novos produtos e serviços, que gerem valor para o cliente, com taxas e prazos melhores e maior transparência, eles vão adotar imediatamente. Mas isso só vai acontecer quando esses serviços estiverem disponíveis, então ainda pode demorar um pouco”, diz o consultor.
Atrasos e conquistas
Para o olhar leigo, pode parecer que o Open Banking tem passado por dificuldades no Brasil, com muitos tropeços e atrasos. A primeira fase, iniciada em fevereiro deste ano, previa que as instituições participantes disponibilizassem ao público informações padronizadas sobre os seus canais de atendimento, produtos e serviços.
A segunda etapa, que devia ter começado em abril, acabou adiada para o dia 13 de agosto. Esse desdobramento, mais abrangente, permitiu o compartilhamento entre diferentes instituições e fintechs de dados cadastrais e transacionais (em contas, cartão de crédito e produtos de crédito contratados) do cliente – desde que ele desse o seu consentimento.
Prevista para o dia 30 de agosto, a terceira fase tinha como meta o compartilhamento de serviços de iniciação de transações de pagamento e de encaminhamento de proposta de operação de crédito. Mas houve um novo adiamento, e as mudanças ficaram para o final de outubro. A quarta etapa está prevista para dezembro: na ocasião, os clientes poderão compartilhar informações de operações de câmbio, investimentos seguros e previdência complementar.
Edlayne Burr, diretora executiva da Accenture (Foto: Divulgação)
Complexidade
O especialista Ralph Bragg, da Raidiam, não estava envolvido no início dos trabalhos do Banco Central para implantar o Open Banking no Brasil. “Fomos chamados mais tarde, porque precisavam de alguém para criar o Trust Framework – a estrutura de identidade e segurança que fica no centro do sistema. E acabamos fazendo workshops para explicar o trabalho que havíamos feito no Reino Unido”, diz o consultor.
Apesar da dificuldade em assimilar uma quantidade enorme de novas informações, o avanço foi rápido, segundo Bragg. “Foi muito impressionante ver o nível de conhecimento e habilidade do setor de serviços financeiros no Brasil. Sim, foi necessário muito aprendizado, mas eu jamais subestimaria o nível de expertise necessário para entender e entregar esses processos. Esses atrasos não são nada comparados com as conquistas.”
Envolvida há um ano nos grupos de trabalho – a Accenture representa grandes bancos junto ao Banco Central –, Edlayne afirma que a complexidade desse trabalho para as instituições é enorme. “Open Banking nada mais é do que dividir informações por meio de APIs. Nos grandes bancos, que existem há muitos anos, os sistemas não têm a mesma arquitetura que os novos. Então é muito pesado para eles fazer tudo isso. Mas eles já entenderam que existem muitas oportunidades ali.”
Oportunidades
A Líder de Estratégia para Pagamentos da Accenture enumera três modelos de negócio principais, que devem começar a surgir já em 2022, para alegria dos bancos, fintechs e outros players que souberem aproveitar o momento. O primeiro é o agregador de contas, que funciona tanto para pessoa jurídica quanto para pequenas e médias empresas.
“Hoje, se você tem contas ou produtos financeiros em diferentes bancos, não existe uma maneira de ver tudo em um único dashboard”, diz Edlayne. “Com o Open Banking, será possível criar um serviço em que o cliente veja todas as suas movimentações financeiras, em diferentes instituições, concentradas no mesmo local. O mesmo vale para pequenas e médias empresas, que vão poder ver todo o fluxo de capital do negócio em um único lugar.” A oportunidade, diz, vale tanto para grandes bancos quanto para fintechs. “O modelo é muito bem-sucedido em países como Inglaterra e Singapura.”
Outra alternativa é a criação de marketplaces. Em vez de oferecer apenas produtos próprios, os bancos poderão montar uma plataforma com ofertas de bancos parceiros. "O Banco DBS, de Singapura, foi mais longe e oferece até mesmo pacotes de viagens”, diz a diretora executiva da Accenture. Também vitorioso lá fora, o modelo de agência de crédito é outro que deve pegar aqui. “Com o consentimento do cliente, os bancos vão ser obrigados a abrir os limites de crédito de cada um. Com isso, vão surgir agências concentrando essas informações.” E as ofertas de crédito, diz, serão melhores e mais variadas.
“O melhor de tudo isso é que esse não é um jogo de cartas marcadas”, diz a executiva. “Há oportunidades para todos. Desde que o banco, fintech ou empresa comece a se preparar desde já. É preciso começar a desenvolver modelos para isso, ainda neste ano. Quem esperar muito vai ficar para trás.”
Adoção precoce
Alguns especialistas acreditam que pode haver dificuldades para a adoção do Open Banking no Brasil, já que nem todos entenderiam como o sistema funciona ou estariam dispostos a compartilhar seus dados. “Em todas as pesquisas globais, o brasileiro sempre aparece como um dos povos mais abertos para a inovação”, diz Edlayne. “Prova disso é o sucesso do PIX, que hoje é o segundo maior sistema de pagamento instantâneo do mundo, atrás apenas da Índia.”
Ralph Bragg, fundador da Raidiam (Foto: Divulgação)
Fonte: Época Negócios
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