Petrobras anuncia reajuste de 9,15% e 7,05% para o diesel e a gasolina nas refinarias, com a justificativa de "demanda atípica" para o mês de novembro. Especialistas preveem novos aumentos, em razão da cotação do petróleo e das incertezas na política econômica.

O consumidor deve preparar o bolso para novo aumento no preço dos combustíveis. A Petrobras anunciou, ontem, reajuste do diesel e da gasolina nas refinarias de 9,15% e de 7,05%, respectivamente. Os valores passam a vigorar a partir de hoje. Mas, com a forte alta no barril do petróleo no mercado internacional e o dólar cada vez mais valorizado, a tendência é de que o combustível para o consumidor sofra novos reajustes neste ano e no ano que vem, alertam especialistas. Segundo eles, a inflação dos combustíveis está relacionada à falta do produto no mercado externo, mas também às incertezas acerca das contas públicas, após o governo admitir que poderá estourar o teto de gastos para ampliar o Bolsa Família.


De acordo com o comunicado da estatal, o preço médio do litro do diesel passará de R$ 3,06 para R$ 3,34, alta de 28 centavos por litro. Enquanto isso, o litro da gasolina será reajustado em 21 centavos, passando de R$ 2,98 para R$ 3,19. “Esses ajustes são importantes para garantir que o mercado siga sendo suprido em bases econômicas e sem riscos de desabastecimento pelos diferentes atores responsáveis pelo atendimento às diversas regiões brasileiras: distribuidores, importadores e outros produtores, além da Petrobras”, informou a estatal no comunicado. “O alinhamento de preços ao mercado internacional se mostra especialmente relevante no momento que vivenciamos, com a demanda atípica recebida pela Petrobras para o mês de novembro de 2021”, acrescentou a Petrobras.

Conforme informações da petrolífera, considerando a mistura obrigatória de 27% de etanol anidro e 73% de gasolina o reajuste na bomba poderá ser menor para o consumidor. “O preço da gasolina na bomba passará a ser de R$ 2,33 por litro em média. Uma variação de R$ 0,15 por litro”, destacou a nota informando que, no caso do diesel, por conta da mistura de 12% do biodiesel, o preço nos postos terá uma variação média de R$ 0,24.

Mas analistas alertam que a Petrobras ainda deve continuar reajustando os combustíveis, por conta da política de paridade com os preços internacionais. A defasagem dos preços no mercado doméstico, segundo eles, continua abaixo dos valores praticados no mercado externo. Pelos cálculos de Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), destacou que, com o aumento que passa a vigorar a partir de hoje, a diferença dos preços do da gasolina em relação ao praticado lá fora para a estatal está em 11% e, no caso do diesel, em 13%. “Os reajustes devem continuar ocorrendo nos próximos meses, porque não vejo o preço do petróleo cair e, muito menos, o dólar”, afirmou Pires. Ele, inclusive, minimizou a queda de ontem da divisa norte-americana, que recuou para R$ 5,55. “Foi muito baixa; o dólar vai continuar valorizado”, alertou. Segundo ele, essa pressão no câmbio está relacionada com as incertezas internas e com a aproximação das eleições no ano que vem. “O dólar sempre sobe quando há eleição”, observou.

Tendência de alta

Pires lembrou que o barril do petróleo tipo Brent, negociado em Londres e o utilizado pela Petrobras para o monitoramento dos preços, já ultrapassa US$ 85, valor bem acima dos US$ 44 negociados em outubro de 2020. Os contratos futuros do Brent subiram US$ 0,46, ontem, para US$ 85,99 o barril, mas durante a sessão, chegaram a US$ 86,70, maior patamar desde outubro de 2018.

“A tendência é alta no preço do petróleo enquanto durar o inverno no Hemisfério Norte, que aumenta a demanda pela commodity”, explicou Pires. Nesse sentido, ele não descarta o barril voltando ao patamar de US$ 100 até o primeiro trimestre do ano que vem.

O economista e especialista em contas públicas Murilo Ferreira Viana, também lembrou que, devido à instabilidade fiscal provocada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), aprofundada semana passada devido à iminência de descumprimento das regras fiscais, uma deterioração do câmbio vai contribuir para a continuidade dos reajustes dos combustíveis. Além disso, lembrou que o preço internacional do petróleo não indica sinais de enfraquecimento. “Esses dois fatores contribuem para um cenário de novos e significativos reajustes de preços”, explicou.

Viana ainda destacou que o governo tenta criar uma cortina de fumaça, jogando a responsabilidade da alta dos combustíveis sobre o do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). “O governo voltou a atacar o ICMS pelo aumento dos combustíveis. Mas a aprovação do projeto de lei que passou na Câmara levaria a uma diminuição média de R$0,46 (gasolina), R$ 0,42 (etanol) e R$ 0,17 (diesel). Somente o anúncio de aumento divulgado pela Petrobras prevê aumento médio de R$ 0,21 (gasolina) e R$0,28 (diesel)”, comparou.


O anúncio do reajuste dos combustíveis, que foi antecipado por Bolsonaro no domingo, ajudou a elevar os preços das ações da Petrobras, ontem, na Bolsa de Valores de São Paulo (B3).

Guedes fala em "conversinha" dos críticos

Uma nova onda de revisões sobre a economia varreu o mercado ontem, após o governo anunciar a intenção de burlar o teto de gastos. Até os grandes bancos passaram a prever queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 2022, e o risco de recessão voltou para o radar.

O ministro Paulo Guedes ficou irritado com essas novas projeções que colocam por terra o argumento dele de que o país iria “surpreender o mundo” e que a economia brasileira estava “decolando” em V. Durante o lançamento do Programa de Crescimento Verde, no Palácio do Planalto, o chefe da equipe econômica chamou as previsões mais pessimistas de “conversinha”. “Vamos crescer ano que vem de novo. A conversinha é sempre essa. Primeiro que ia cair, ia ficar lá embaixo, não ia voltar. Aí volta em V”, disse o ministro. Segundo ele, o PIB vai crescer de novo, e “cada um vai fazer o seu trabalho”.

Logo em seguida à fala de Guedes, o ex-ministro da Fazenda e secretário de Fazenda e Planejamento do estado de São Paulo Henrique Meirelles foi às redes sociais para rebater as declarações do ministro. No domingo, o chefe da equipe econômica Meirelles e os economistas Affonso Celso Pastore e Mailson da Nóbrega. “Os resultados da atual política econômica são negativos. É possível que o ministro da Economia esteja até conseguindo fazer o melhor possível dentro da confusão que virou este governo e a área econômica, mas o resultado é ruim”, escreveu Meirelles, responsável pela aprovação da regra do teto.

Em outra postagem, o ex-ministro da Fazenda de Michel Temer disse que o governo deveria dar uma sinalização muito séria de que vai respeitar o teto de gastos. “Se quiser fazer despesa social para ajudar a população, muito bem . Mas é preciso cortar outras despesas”, frisou.
Novas revisões


O Itaú Unibanco, anunciou, ontem, que começou 2021 com uma das estimativas mais otimistas do mercado, passou a prever queda de 0,5% no Produto Interno Bruto (PIB) do ano que vem. A instituição apontou a piora no quadro fiscal como principal motivo dessa revisão. A estimativa anterior era de crescimento de 0,5%. O Itaú elevou de R$ 5,25 para R$ 5,50 a previsão para o dólar neste ano e no próximo e piorou as previsões de desemprego, de inflação e da dívida pública.

Pouco do prognóstico do Itaú, a MB Associados divulgou revisões nas projeções, e para baixo. Sergio Vale, economista-chefe da MB, reduziu de 0,4% para zero a previsão para a variação do PIB do ano que vem, mas reconheceu que o viés é de baixa. “É possível que essa nova projeção vire queda no futuro, sim”, admitiu. A consultoria não alterou a previsão de crescimento do PIB deste ano, de 4,7%.

Vale destacou que há possibilidade de uma recessão técnica no país (quando há queda no PIB por dois trimestres consecutivos). “Há risco adicional de queda do PIB não apenas no quarto trimestre, mas também no primeiro trimestre de 2022”, alertou o economista da MB.

Conforme dados do boletim semanal Focus, do Banco Central, divulgado ontem, a mediana das projeções do mercado para o PIB de 2021 ficou abaixo de 5%, passando de 5,01% para 4,97%. Já a mediana para a expansão do PIB no ano que vem foi reduzida de 1,5% para 1,4% na mesma base de comparação.

Fonte: R7