Sentença foi lida nesta sexta-feira após dez dias de julgamento em Porto Alegre. 'A culpabilidade dos réus é elevada, mesmo em dolo eventual', disse o juiz

Francisco Beltrão, Paraná - Os quatro réus apontados como responsáveis pelo incêndio que deixou 242 mortos na Boate Kiss, em janeiro de 2013, foram condenados pelo Tribunal do Júri em Porto Alegre nesta sexta-feira, 10.

As penas variaram de 18 a 22 anos de prisão e os acusados chegaram a ter a prisão decretada, o que acabou revertido por força de um habeas corpus. A sentença encerrou um julgamento de 10 dias sobre a tragédia que aconteceu na cidade de Santa Maria.

Depois da deliberação dos jurados nesta tarde, o juiz Orlando Faccini Neto, que conduziu o julgamento, leu o veredito. Ele afirmou que todos foram condenados e destacou a gravidade das condutas.

"A culpabilidade dos réus é elevada, mesmo em dolo eventual. Este muito (tempo de vida) não foi retirado por obra do acaso", comentou.

Depois passou a ler parte do veredito e definiu as penas de cada um, decretando a prisão imediata. Um dos réus foi beneficiado por um habeas corpus preventivo, benefício que acabou estendido a todos.

Veja quem são os condenados pelo caso da Boate Kiss e quais são as penas:

Elissandro Callegaro Spohr (sócio proprietário do local): condenado a 22 anos e 6 meses de reclusão
Mauro Londero Hoffmann (sócio proprietário do local): condenado a 19 anos e 6 meses de reclusão
Marcelo de Jesus dos Santos (vocalista da banda Gurizada Fandangueira): condenado a 18 anos de reclusão
Luciano Augusto Bonilha Leão (produtor do grupo): condenado a 18 anos de reclusão.


Luciano Augusto Bonilha Leão é acusado de ter comprado o sinalizador que causou o incêncio na Boate Kiss. Foto: SILVIO AVILA / AFP

Julgamento é considerado o mais longo da história do Rio Grande do Sul

Este caso, com mais de 19 mil páginas, é considerado o maior e o mais longo da Justiça do Rio Grande do Sul. O Ministério Público pedia a condenação de todos os acusados por homicídio doloso (quando o acusado tem a intenção ou assume o risco de morte).

A sustentação foi feita pelos promotores David Medina da Silva e Lúcia Helena Callegari, e pelo assistente de acusação Pedro Barcellos, representando as vítimas. Já os advogados dos acusados pediram absolvição ou pelo menos alterar a pena de dolo para culpa.

Os quatro réus respondiam por homicídio simples, consumado 242 vezes (total de vítimas) e tentado outras 636 (número de sobreviventes). O incêndio na Boate Kiss começou durante o show da banda Gurizada Fandangueira, quando Santos disparou um artefato pirotécnico, atingindo parte do teto do prédio, que era coberto por uma espuma e pegou fogo rapidamente.

Além do incêndio que provocou a morte de muitos jovens naquela noite, outra parte das vítimas morreu após inalar a fumaça tóxica liberada com a queima da espuma de proteção acústica no teto. Segundo a perícia e relatos de sobreviventes, não havia ventilação adequada ou extintores de incêndio apropriados no local.

Fonte: Estadão