Neste 18 de junho, data em que se comemora o Dia Mundial do Orgulho Autista, Curitiba, reconhecida por ser a Cidade Mais Igualitária do Brasil segundo o Instituto Cidades Sustentáveis, tem muito a comemorar. Em uma ampliação da forma de acompanhar os casos em que há suspeita de atraso de desenvolvimento, especialmente transtorno do espectro autista (TEA), a Prefeitura passou a descentralizar o atendimento, levando soluções para mais perto da casa dos usuários que precisam de acompanhamento.
Em Curitiba, a porta de entrada para toda criança com suspeita diagnóstica de TEA é a unidade de saúde de referência. Nela, todas as crianças entre 18 e 24 meses de idade passam por avaliação médica por meio do questionário M-CHAT, um instrumento de triagem para TEA.
Se houver pontuação sugestiva de atraso de desenvolvimento, esta criança é encaminhada para a avaliação de um neurologista pediátrico – via sistema interno de telerregulação da Secretaria Municipal da Saúde (SMS).
O neurologista regulador, então, quando necessário, insere a criança em fila de espera para avaliação presencial. Ao mesmo tempo, encaminha para um grupo no próprio distrito sanitário, onde se iniciará prontamente o Programa de Treinamento de Habilidades para Pais e Cuidadores de Crianças com Atraso ou Transtorno do Desenvolvimento, especialmente TEA, ou CST, da sigla em inglês (Caregiver Skills Training).
“O diagnóstico é importante. Mas nem sempre ele é simples ou rápido, por uma séria de complexidades relacionadas ao TEA. Independentemente disso, mesmo sem o diagnóstico estar fechado, o mais importante é começarmos as intervenções e estimulações o mais breve possível para qualquer criança que apresente algum sinal de atraso”, explica a secretária municipal da Saúde de Curitiba, Beatriz Battistella.
Segundo o CDC americano, a estimativa é que uma a cada 36 crianças de 8 anos esteja dentro do espectro autista. Ainda não há projeções nacionais, mas se for aplicado o dado americano, chega-se a uma estimativa de 5,95 milhões de autistas no Brasil.
“Com um contingente tão grande de crianças que precisa de acompanhamento, ele precisa estar descentralizado e perto de casa, por isso esta iniciativa da SMS é tão interessante”, diz a psicóloga da SMS, Cláudia Moreira Rabel, especialista no atendimento do TEA.
O CST é um programa da Organização Mundial da Saúde (OMS), cujo objetivo é auxiliar os pais e cuidadores na estimulação de habilidades, como comunicação e interação social, no manejo dos comportamentos desafiadores, assim como na melhora da sua qualidade de vida. “Os pais são aqueles ficam maior parte do tempo com os filhos, então precisam estar orientados sobre como lidar da melhor forma”, diz Cláudia.
Curitiba foi a primeira cidade do país a implantar o programa da OMS. O projeto foi iniciado, em 2020, com a capacitação de facilitadores, que têm a função de preparar novos profissionais para difundir o trabalho em outros níveis.
O projeto-piloto foi desenvolvido com pais e cuidadores de crianças atendidas no Ambulatório Encantar, especializado no atendimento de TEA em Curitiba. Com a pandemia, os encontros se tornaram online nos dois anos seguintes. No início de 2023, foi criado o primeiro grupo descentralizado no distrito sanitário Bairro Novo. Atualmente, todos os distritos sanitários possuem grupos CST.
Maria Eduarda Rocha Goes, de 20 anos, e o marido, Caio Murilo Doria, de 21 anos, estão entre os pais que fizeram o curso, enquanto ainda aguardam o fechamento do diagnóstico do filho Arthur, de 5 anos. “O Arthur não andava na ponta do pé, não tinha seletividade alimentar, desfraldou no tempo correto, mas com 2 anos e meio falava só o básico. Por orientação da fonoaudióloga da unidade de saúde, matriculamos ele na escola, o que já ajudou muito", conta a mãe.
"Depois veio o curso, que nos ensinou a como lidar com o Arthur, entender o lado dele. Sem contar que, no grupo, podemos compartilhar a experiência com outros pais, que estão vivendo situações semelhantes com seus filhos”, diz Maria Eduarda.
Os grupos para pais ocorrem em nove encontros e três visitas domiciliares, sendo em média 12 semanas, de encontro semanais, de acordo com a demanda de cada distrito sanitário. O curso é realizado pelos profissionais da atenção primária à saúde dos distritos sanitários, que são capacitados, acompanhados e supervisionados, pela equipe técnica do Ambulatório Encantar.
Já são 72 o número de servidores capacitados para o CST nos 10 distritos sanitários. Atualmente há 12 grupos em andamento, num total de 96 crianças e familiares em atendimento. Desde o seu início, 150 crianças e familiares foram contemplados por este programa.
Consultas especializadas
Segundo Beatriz, a expectativa é continuar ampliando este atendimento nas unidades de saúde, ao mesmo tempo em que se expande também a oferta de consulta especializadas em neurologia pediátrica, entre outros. “Este é um gargalo nacional, uma vez que há pouquíssima oferta de profissional especializado no mercado, ao mesmo tempo em que se vê uma sensibilidade maior ao assunto, o que gera maior demanda por este tipo de atendimento, que vem sendo inclusive negado por muitos planos de saúde”, esclarece.
Na contramão dos planos de saúde, o SUS Curitibano tem ampliado a oferta de consultas especializadas em neuropediatria, para avaliação de TEA. Atualmente, são realizadas 50 consultas de neuropediatria para avaliação de TEA pelo SUS Curitibano. A proposta é ampliar mais 238 consultas por mês, no segundo semestre de 2024. Há, ainda, a previsão de ampliação das terapias, com 100 atendimentos fonoaudiologia e 800 de psicologia por mês.
Ambulatório Encantar
Curitiba conta ainda com o Centro de Especialidades Médicas Encantar, que possui equipe multiprofissional composta por especialistas nas áreas da fonoaudiologia, psicologia, fisioterapia, terapia ocupacional, assistência social, enfermagem, medicina da família, pediatra e neuropediatra.
No ano de 2023 entraram 16 profissionais a mais para compor a equipe. Há atualmente 514 crianças já em atendimento no Encantar, num total de 1.550 procedimentos ao mês.
Além do Encantar, a SMS mantém prestadores de serviços contratualizados, para os quais as crianças são encaminhadas para atendimentos, conforme protocolo, entre eles a Afece, Escola Especial Nilza Tartuci, Cedae Apae, Amcip e Pequeno Cotolengo. Há estudo ainda de descentralização do Programa Encantar para as Escolas especiais, o que aumentará a oferta para reabilitação intelectual.
Fonte: Prefeitura de Curitiba
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